Está a decorrer no arquipélago de Cabo Verde, entre 06 e 27 de julho, uma expedição internacional de geólogos, paleontólogos e biólogos liderada pelo biólogo e paleontólogo Sérgio Ávila (CIBIO-Açores/Universidade dos Açores) e pelo geólogo Ricardo Ramalho (Universidade de Cardiff, Reino Unido). Durante 21 dias, os 9 cientistas que participam neste 5.º Workshop Internacional “Paleontologia em Cabo Verde”, e que incluem investigadores dos Estados Unidos da América, Espanha (Canárias), Polónia, Reino Unido e Portugal, desenvolvem trabalhos de campo nas ilhas do Sal, Santiago, Boa Vista e Maio. Esta expedição é financiada pelo Governo Regional dos Açores, através do projeto “Base de Dados da PaleoBiodiversidade da Macaronésia”, liderado pela bióloga Patrícia Madeira (CIBIO-Açores).

O principal objetivo desta expedição é, de acordo com Sérgio Ávila, o líder do grupo de Paleontologia e Biogeografia Marinha do CIBIO-Açores, “estudar o abundante registo fossilífero do último estádio interglacial existente em várias das ilhas de Cabo Verde, e compará-lo com a fauna coeva reportada para os restantes arquipélagos da Macaronésia (Açores, Madeira e Canárias), bem como com a fauna marinha litoral atual de Cabo Verde, com o intuito de verificar se houve migrações latitudinais associadas a alterações climáticas globais verificadas durante os últimos 130.000 anos.

Cabo Verde é um arquipélago onde foram detetados campos de megablocos, os quais foram associados pelos geólogos Ricardo Ramalho e José Madeira (Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa) a megatsunamis gerados pelo colapso lateral de edifícios vulcânicos. Um destes colapsos ocorreu na ilha do Fogo, há cerca de 68.000 anos e, de acordo com Ricardo Ramalho, “provocou ondas superiores a 250 metros de altura, as quais terão demorado cerca de 8 minutos a percorrer os 55 quilómetros que separam as ilhas do Fogo e de Santiago.” O impacto das ondas deste megatsunami terá sido devastador e deixou a sua marca em vários locais de Santiago e noutras ilhas de Cabo Verde, quer sob a forma de campos de megablocos (alguns com cerca de 700 toneladas, arrancados da arriba e arrastados até 1,8 km para o interior da ilha), quer sob a forma de múltiplos depósitos fossilíferos, os quais têm sido estudados por equipas de paleontólogos açorianos e canarinhos, liderados, respetivamente, por Sérgio Ávila e por Esther Martín-González, em colaboração com os paleontólogos Markes Johnson (Williams College, E.U.A.) e Alfred Uchman (Jagellonian University).

De acordo com depoimentos dos cientistas, os resultados preliminares desta expedição têm sido entusiasmantes, com várias novidades científicas que a seu tempo serão publicadas.

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